quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O POETA-OPERÁRIO

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O que? Versos? Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!

Vladimir Maiakóvisk

domingo, 23 de agosto de 2009

Divulgada lista de finalistas do Prêmio Jabuti

A Câmara Brasileira do Livro divulgou a lista de finalistas das 21 categorias do Prêmio Jabuti. Os vencedores serão conhecidos em 29 de setembro. Confira abaixo os indicados nas categorias Romance, Contos & Crônicas, Poesia, Reportagem e Biografia. A lista completa de todas as categorias está na página da Câmara Brasileira do Livro.

ROMANCE

Flores azuis (Cia das Letras) - Carola Saavedra
Cordilheira (Cia das Letras) - Daniel Galera
Órfãos do Eldorado (Cia das Letras) - Milton Hatoum
Galiléia (Alfaguara) - Ronaldo Correia de Brito
Satolep (Cosac Naify) - Vitor Ramil
Manual da paixão solitária (Cia das Letras) - Moacyr Scliar
A parede no escuro (Record) - Altair Martins
O livro dos nomes (Cia das Letras) - Maria Esther Maciel
Um livro em fuga (Record) - Edgar Telles Ribeiro
Heranças (Rocco) - Silviano Santiago

CONTOS & CRÔNICAS

Canalha! (Bertrand Brasil) - Fabricio Carpinejar
101 Crônicas: Ungáua! (Publifolha) - Ruy Castro
Ó (Iluminuras) - Nuno Alvares Pessoa de Almeida Ramos
Rasif (Record) - Marcelino Freire
Ostra feliz não faz pérola (Planeta) - Rubem Alves
Os comes e bebes nos velórios das Gerais e outras histórias (Auana) - Déa Rodrigues da Cunha Rocha
Ping pong, Chinês por um mês: As aventuras de um jornalista brasileiro pela China olímpica (Arte Pau Brasil) - Felipe Machado
Crônicas e outros escritos de Tarsila do Amaral (Unicamp) - Laura Taddei Brandini (org.)
Antologia pessoal (Record) - Eric Nepomuceno
Cheiro de terra: contos fazendeiros (Scortecci) - Lucília Junqueira de Almeida Prado
O silêncio dos amantes (Record) - Lya Luft
Vatapaenses vasos comunicantes (GM Minister) - Sergio de Almeida Bruni

POESIA

Dois em um (Iluminuras) - Alice Ruiz
Chocolate amargo (Brasiliense) - Renata Pallotini
Antigos e soltos: poemas e prosas da pasta rosa, de Ana Cristina Cesar (IMS) - Instituto Moreira Sales (org.)
Cinemateca (Cia das Letras) - Eucanãa Ferraz
A letra da ley (Annablume) - Glauco Mattoso
Homem ao termo: poesia reunida 1949-2005 (EdUFMG) - Affonso Ávila
Outros barulhos (Reynaldo Bessa) - Reynaldo Bessa
Geometria da paixão (Anome Livros) - Dagmar de Oliveira Braga
Os corpos e os dias (Editora de Cultura) - Laura Erber
Ferreira Gullar: poesia completa, teatro e prosa (Nova Fronteira) - Ferreira Gullar
Réquiem (Contra Capa) - Lêdo Ivo
Uma hora por dia (7 Letras) - Maria Helena Azevedo

REPORTAGEM

O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real (Globo) - Eliane Brum
O sequestro dos uruguaios - uma reportagem dos tempos da ditadura (L&PM) - Luiz Cláudio Cunha
O livro amarelo do terminal (Cosac Naify) - Vanessa Barbara
Narrativa de um correspondente de rua (Pós-escrito) - Mauro König
Rim por Rim (Record) - Julio Ludemir
Sem vestígios (Geração Editorial) - Tais Morais
No calor da hora: música e cultura nos anos de chumbo (Algol) - João Marcos Coelho
Casadas com o crime (Letras do Brasil) - Josmar Josino
Suicídio - O futuro interrompido (Geração Editorial) - Paula Fontenelle
1968 - O que fizemos de nós (Planeta) - Zuenir Ventura

BIOGRAFIA

José Olympio, o editor e sua casa (G.M.T.) - José Mario Pereira
O sol do Brasil (Cia das Letras) - Lilia Moritz Schwarcz
Anna: a voz da Rússia - Vida e obra de Anna Akhmàtova (Algol) - Lauro Machado Coelho
O santo sujo: a vida de Jayme Ovalle (Cosac Naify) - Humberto Werneck
Caio Prado Júnior (Boitempo) - Lincoln Secco
Domingos Sodré, um sacerdote africano (Cia das Letras) - João José Reis
Cruz e Sousa - Dante negro do Brasil (Pallas) - Uelinton Farias Alves
Cancioneiro Chico Buarque (Jobim Music) - Elianne Canetti Jobim
Traição (Cia das Letras) - Ronaldo Vainfas
Viver sua música: com Stravinsky em meus ouvidos, rumo à avenida Nevskiy (Edusp) - Gilberto Mendes

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E. E. Cummings, por Zeca Baleiro e Augusto de Campos

Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção.
Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound.

(comentários de Haroldo de Campos publicado no livro "poem(a)s" Editora Francisco Alves - 1998)


Zeca Baleiro, no CD Líricas, musicou o poema Nalgum Lugar, tradução de Augusto de Campos:


Nalgum Lugar
(E. E. Cummings)


Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além

alémDe qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:

No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,

Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

pertoTeu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar

Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre

(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado, eu e

Minha vida nos fecharemos belamente, de repente

Assim como o coração desta flor imagina

A neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

Nada que eu possa perceber neste universo iguala

O poder de tua intensa fragilidade: cuja textura

Compele-me com a cor de seus continentes

Restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha

E abre; só uma parte de mim compreende que a

Voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)

Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Silêncio

Há um grande silêncio que está sempre à escuta...
E a gente se põe a dizer inquietamente qualquer coisa,
qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até a tua dúvida metafísica, Hamleto!
E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta...
e cala.

Mário Quintana