quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E. E. Cummings, por Zeca Baleiro e Augusto de Campos

Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção.
Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound.

(comentários de Haroldo de Campos publicado no livro "poem(a)s" Editora Francisco Alves - 1998)


Zeca Baleiro, no CD Líricas, musicou o poema Nalgum Lugar, tradução de Augusto de Campos:


Nalgum Lugar
(E. E. Cummings)


Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além

alémDe qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:

No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,

Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

pertoTeu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

Embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar

Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre

(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado, eu e

Minha vida nos fecharemos belamente, de repente

Assim como o coração desta flor imagina

A neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

Nada que eu possa perceber neste universo iguala

O poder de tua intensa fragilidade: cuja textura

Compele-me com a cor de seus continentes

Restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha

E abre; só uma parte de mim compreende que a

Voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)

Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

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